quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

ANALISE CRÍTICA DO FILME: COMO ESTRELAS NA TERRA


Taare Zameen Par (Como Estrelas na Terra- Toda Criança é Especial) – KHAN, Aamir , 140 min. – Drama  - Índia,  2007



O filme Como Estrelas na Terra conta a história de um garoto de oito anos chamado Ishaan Mandkishore Awasthi. Uma criança que sofre a opressão e incompreensão do mundo em que está mergulhado, simplesmente  pela sua maneira distinta de enxergar as coisas ao seu redor, ele que vive totalmente alheio a esse mundo, é sonhador, cheio de imaginação, mas ninguém parece dar muita atenção aos seus sonhos, ele quer apenas  ser livre... Livre para criar! Estamos falando de uma criança disléxica, este, por sua vez é obrigado a enfrentar  inúmeros problemas, pois quem os cerca (família, escola, vizinhos e amigos), o vêem como indisciplinado, incapaz e insociável,  por não conseguir  satisfazer as exigências a ele impostas, uma vez que o filme retrata muito bem a vida moderna e o modelo de escola tradicional,   que nos condiciona a vivermos numa  corrida frenética pela sobrevivência, essa busca incansável que nos impede até mesmo de sermos mais “família”, onde às vezes agimos como meros tecnicistas,  como observamos muito claramente no método behaviorista de vida e ensino onde o pai de Ishaan viaja constantemente a trabalho, a mãe tem a sua rotina muito técnica de cuidar do marido, filhos, casa, o irmão estuda, pratica esportes, a condição da escola, com salas de aula tendo cadeiras enfileiradas, o uso do castigo por não acertar as tarefas... O filme retrata também atitudes de  uma gama de professores não muito preocupados com a educação e particularidade dos alunos, professores que por sua vez acreditam serem donos do saber, diante de alunos tabulas rasas, papel em branco. É o que acontece na primeira escola que Ishaan freqüenta, ele  não tem nenhum tipo de acompanhamento necessário e é colocado ao ritmo normal de ensino das outras crianças, dificultando seu relacionamento com o mundo escolar. Em uma das muitas cenas de sala de aula, em vez de se ater ao conteúdo das matérias e à fala enérgica e ininterrupta da professora, cobrando e avaliando desempenhos da forma mais tradicional e retrógrada possível, o saudável Ishaan busca alguma salvação na janela, contemplando a forma como os pneus das bicicletas passam em uma poça d’água barrenta, logo, obviamente, recebe a bronca esperada, que, invariavelmente é acompanhada de humilhações, ou pelos outros alunos, que se divertem à suas custas, ou pelos próprios professores, que ignoram as “dificuldades” de aprendizagem de Ishaan, qualificando-o de engraçadinho, sem-vergonha, preguiçoso, etc. Percebemos aqui uma prática do professor que se vale  da pedagogia diretiva como método de ensino,  aquele professor que fala e o aluno obedece, o professor que dita e o aluno copia, conforme traz Fernando Becker, In: Educação e Realidade.
Ishaan é comparado o tempo todo com seu irmão mais velho que é tido como um garoto inteligente, nota 10, é nesse turbilhão de culpas, castigos e rejeições que Ishaan vai se afundando, pois seus pais e  professores não o compreendem, sendo assim, seu pai decide transferi-lo para um colégio interno, acreditando que a disciplina e ordem do ambiente o transformariam. A solidão e o abandono só serviram para aumentar ainda mais o seu estado, aquele garoto tão sonhador, se vê de repente sem ânimo para fazer o que mais gostava: criar e pintar seu universo tão colorido, cheio de peixes, pipas, discos voadores, alienígenas, tudo fantástico, até que um professor substituto de artes percebe que algo de errado acontecia com Ishaan, começou a observá-lo melhor a partir de então, percebe que ele é uma criança disléxica, mostra seu interesse de imediato  de cuidar do aprendizado de Ishaan, fala a seus pais sobre a “dislexia” e explica-os que o motivo do mau  comportamento do garoto é devido à maneira  de  como ele é  tratado    ocasionando em agressividade e diminuindo a sua auto-confiança.
Após uma série de esforços do professor Nikumbh, Ishaan começa a recuperar sua auto-estima e percebe que sua diferença não o torna incapaz de fazer tudo que seus amigos fazem, pelo contrário, sua inteligência é exposta através da arte, aos olhos de quem o recriminavam. O garoto começa a se destacar em todas as disciplinas e, principalmente, na vida de criança, tornando-se um orgulho para a família e professores.
Atitude exemplar de um educador que investe em seus alunos, atitude esta que trouxe de volta o sorriso e esperança a um rosto tão ingênuo e delicado de criança.
Embora o filme fale diretamente sobre o caso de uma criança, ele é uma mensagem para o mundo sobre o verdadeiro papel de um educador e formação de um novo ser humano. O modo como a arte e a educação são importantes ferramentas de estímulo ao desenvolvimento de uma pessoa quando aplicadas intencionalmente para a sua felicidade, independente do problema ou desvio que tiver.
Um filme indispensável aos profissionais da área de educação, pois quem segue ou pretende seguir a carreira docente, estará sujeito a situações diversas, e a dislexia não pode ser um problema a interferir na vida estudantil da criança. Cabe ao professor, como educador assegurar a garantia do aprendizado do aluno.


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