quinta-feira, 21 de abril de 2011

MITO DA UNIDADE LINGUISTICA NO BRASIL - SIP III

UNEB- UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA
DCHT- DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E TECNOLOGIAS       
CAMPUS XVI – IRECÊ-BA.

Mito da Unidade Linguística no Brasil





*Fabiana Dias
Magali Santana
Mauro Jakes Farias
Milton Cardoso
Regimária Farias
Sônia Marlene
Taciane Pereira

**Márcia Regina 

RESUMO
O presente artigo propõe um estudo sobre o Português padrão (PP) e o Português não padrão (PNP), apresentando suas diferenças e semelhanças. Faz-se uma análise do contexto sócio linguístico e das variações da linguagem retratadas no poema: “Cante lá que eu canto cá” de Patativa do Assaré, na intenção de considerar a variedade linguística que caracteriza a realidade dos falantes da língua portuguesa, vencendo barreiras e quebrando o mito da unidade linguística no Brasil, ideia causadora de preconceitos.

Palavras-chave: Mito, Patativa do Assaré, preconceito, variedade linguística.


__________________________________
*Discentes do curso de Letras, turma 2.009.2. Universidade do Estado da Bahia – Departamento de Ciências Humanas Tecnológicas – Campus XVI – Irecê-Ba.
**Professora orientadora
INTRODUÇÃO
O presente artigo tem como função, refletir sobre a ideia errônea da unidade linguística falada no Brasil. Alguns teóricos defendem que há uma língua padrão e correta, e que esta, deve ser falada por todos, desprezando então as variações presentes no território brasileiro. Estes conceitos de unidade geram o preconceito, afetando os falantes das variantes ditas não-padrão fazendo com que desprestigiem sua linguagem e, por vezes, envergonhem-se de sua cultura.
Este trabalho terá como objeto de pesquisa o Poema “Cante lá, que eu canto cá” de Patativa do Assaré, o qual será base de nossos questionamentos referentes à variedade e o mito da unidade linguística. Organiza-se, primeiramente, com a contextualização do autor e obra, destacando as variações presentes no poema a partir de uma linguagem que não é considerada correta pela norma culta que rege a língua portuguesa no Brasil, apresentando as semelhanças entre o português padrão e o português não padrão e finalmente, desmistificando essa imagem da unidade linguística.
É notório que no Brasil não se fala apenas uma única língua (o português). No imenso território do país podemos comprovar isso através das diversas línguas entre os povos indígenas e remanescentes negros africanos, que varia entre tribos e regiões, a influência dos diversos idiomas estrangeiros no processo de civilização, como assim afirma Bagno In: Preconceito Linguístico, 2009, p.27. Essa miscigenação de culturas e linguagens deu origem aos diversos falares existentes nas diferentes regiões do país.
Existem muitas variantes no Brasil, umas com e outras sem prestígio social e uma dessas variantes foi “escolhida” para ser a variedade padrão, ou seja, essa é a variedade utilizada em contextos de formalidade, já que ela é a “representante da Língua”. Entretanto, muitas pessoas consideram que essa seja a língua correta, pois é a que “deve ser ensinada na escola” e a que é descrita pelas gramáticas tradicionais, então tudo o que é diferente dessa variedade se torna “errado”, ainda que a maioria da população não a utilize.

Todas as variedades de uma língua têm recursos linguísticos suficientes para desempenhar sua função de veículo de comunicação, de expressão e de interação entre seres humanos. Mas por alguma razão, ou razões, só algumas servem de base para o modelo padrão. (BAGNO, 2003, p. 25)

... Fatos históricos (econômicos e políticos) determinaram a “eleição de uma forma de como a língua portuguesa. As demais formas de falar, que não correspondem à forma “eleita”, são todas postas num mesmo saco e qualificadas como “errôneas”, deselegantes, “inadequadas para a ocasião”, etc. (GERALDI, (ORG), 2003, p.43)

As razões que levam uma variedade a ser escolhida como padrão pode ser históricas, culturais, mas principalmente, econômicas e sociais, ou seja, seus falantes sempre têm poder e prestígio social, o que é repassado para a língua padrão. Como bem assinala Marcos Bagno em seu livro A língua de Eulália que:

No processo de constituição, de cristalização da norma-padrão como o que deve ser “a” língua, ela é analisada pelos gramáticos, que escrevem livros para descrever as regras de funcionamento dela, livros que servem ao mesmo tempo para prescrever essas regras, isto é, impor essas regras como as únicas aceitáveis para o uso “correto” da língua. Os dicionaristas também se debruçam sobre a norma padrão e tentam definir os significados precisos para as palavras que compõem esse padrão. A Academia de Letras estabelece a ortografia oficial, a maneira única de escrever, que é imposta por decreto-lei governamental. ( BAGNO, 2003, p.23)

 Por esse motivo todas as outras variedades são subestimadas, mas não deixam de cumprir sua função de comunicação e interação entre seus falantes, pois todas as línguas (e as variedades) são suficientes para suprir a necessidade de seus usuários, e todas elas têm “regras” por eles reconhecidas.
Entretanto, Bagno, 2005, p. 63, afirma que na realidade, não é a língua usada por um falante que é pobre, mas sim o próprio falante, devido à falta de acesso à educação formal, a condição social em que vive contribui para que este seja discriminado lingüisticamente, sendo atribuído à sua língua todo preconceito. .  (pobres são aqueles que as pronunciam, e errada é a situação de injustiça social em que vivem).
CONTEXTUALIZAÇÃO DO AUTOR E A ESCOLHA DO POEMA
Patativa do Assaré, cujo verdadeiro nome é Antônio Gonçalves da Silva, nascido em cinco de março de 1909 na Serra de Santana, pequena propriedade rural da prefeitura de Assaré, ao sul do estado do Ceará, aos oito anos de idade perde seu pai e teve desde cedo que trabalhar na roça para ajudar no sustento da família.
            Aos doze anos de idade começa frequentar a escola, mas demora apenas alguns meses nesta. Isto, no entanto, já é suficiente para o menino virar um voraz devorador de livros. Aos dezesseis anos de idade ganha da mãe uma pequena viola. A partir daí passa a cantar seus repentes e apresentar-se em pequenas festas da cidade. O apelido de Patativa é adquirido pela comparação que se faz entre o jovem e um pássaro típico da região, aos vinte anos de idade. Neste período, começa a viajar por algumas cidades do Nordeste em apresentações.
 Para situar Patativa do Assaré no contexto da cultura popular, vários estudos, ensaios e teses vão sendo colocadas ao alcance do grande público nacional e estrangeiro que busca compreender o canto livre desse pássaro que se vestiu de uma plumagem característica do grande sertão e das veredas nordestinas.
No seu famoso poema Cante lá, que eu canto cá Patativa se mostra muito apegado às origens sertanejas, apresentando as diferenças entre um poeta criado na cidade, com acesso à educação e aos luxos urbanos e outro que teve sua educação  tirada do convívio com o campo. Como em uma longa resposta a um desafio, Patativa mostra as qualidades inerentes ao poeta do campo.
A poesia é para Patativa um dom divino: “não tenho estudo nem arte / minha rima faz parte / das obras da criação”. E é a divindade que lhe confere, pela relação com a terra, sua sapiência e até mesmo a consciência conceitual da própria poesia: “seu verso é uma mistura / é um tá sarapaté / que quem tem pôca leitura”, e consciência da piração do processo criativo: canto as fulô e os obróio / com todas coisa daqui / pra toda parte que eu óio / vejo um verso se buli / se as vêz andando no vale / atrás de curá meus male / quero repará pra serra / assim que eu óio pra cima, / vejo um diluvi de rima / caindo inrriba da terra”. A própria figura de Jesus é colocada como arquétipo primordial do matuto.                    
          Repleta de elipses temáticas onde uma coisa convulsivamente chama outra atravessando o espaço-tempo a poética patativiana tem consonância com a liberdade modernista apesar de seu rigor formal de métrica precisa. É também de aspecto modernista a ironização presente em alguns poemas: “fuma o seu cigarro manso / bem perfumado e sadio / já eu, aqui tive a sorte / de fumá cigarro forte / feito de paia de mio”.
          A obra de Patativa é louvor e denúncia da desinformação, onde o sertanejo através de sua ignorância, ora científica, ora política, ora religiosa, é incapaz de compreender o que lhe oprime e ao mesmo tempo torna-se sublime pela simplicidade. O poeta oferece a seus leitores um verdadeiro mapa da mina da vida cabocla. A experiência sertaneja surge como experiência complexa do corpo pelos sentidos.
A denominação “poesia popular” foi muitas vezes associada a certo número de representações negativas que a situam no lado da literatura menor por oposição à Literatura.  As conotações mais correntes que lhe são conferidas são aquelas da simplicidade dos temas abordados e das ideias tratadas, facilidade de versificação e banalidade das rimas, ingenuidade dos sentimentos expressos, falta de originalidade e de criatividade, pobreza de vocabulário, riqueza estilística limitada, simbólica indigente.
        No contexto nordestino, a poesia popular inscreve-se na tradição oral desta região do interior: um de seus principais agentes, o cantador, proveniente do meio rural, em geral analfabeto, improvisa ou narra, graças à sua memória prodigiosa, a história dos homens famosos da região, os acontecimentos maiores, as aventuras de caçadas e de derrubas de touros, enfrentando os adversários nos desafios que duram horas e noites inteiras, numa exibição assombrosa de imaginação, brilho e singularidade na cultura tradicional. 
A versificação utilizada, em geral a sextilha hexassilábica ou a décima heptassilábica de rimas contínuas, parece mais ser a expressão de uma técnica de memorização do que a expressão de uma forma poética erudita, a serviço da transmissão de um “saber simbólico: ciência, cultura popular, tradição. Daí, a escansão dos poemas propriamente é muitas vezes surpreendente pela sua falta de preocupação expressiva: “Nenhuma preocupação de desenho melódico, de música bonita.  Monotonia.  Pobreza.  Ingenuidade.  Primitivismo. A única obrigação é respeitar o ritmo do verso.  A declamação se atém ao essencial: a narrativa dos acontecimentos.
            A convivência com os chamados textos de poesia clássica assim como a leitura da obra de Patativa do Assaré permitem pôr em perspectiva esta primeira aproximação e interrogar a conformidade destas conotações evocadas precedentemente.  Sem dúvida, conviria debruçar-se mais adiante sobre as temáticas abordadas para aperceber-se de que, sob esta aparente ingenuidade, esconde-se uma profunda experiência da vida quotidiana que confere uma dimensão simbólica determinante à sua obra. Restituindo-se a obra de Patativa do Assaré ao contexto sertanejo, considerando a influência das tradições dos trovadores, dos repentistas, dos violeiros e da literatura de cordel, é forçoso reconhecer na voz do poeta popular o eco dos sofrimentos, das alegrias e das desgraças da população nordestina do sertão: “Poesia telúrica, colhida da terra, dos roçados como se estivesse apanhando feijão, arroz, algodão, ou quebrando milho e arrancando batata e mandioca.
Sua inspiração não é fruto de estudos. Ela germina dentro de si como a semente nas entranhas da terra. Testemunha então de um modo de vida, mas também reivindicação de valores próprios, elaboração de uma identidade. Com efeito, uma das dimensões mais marcantes da obra de Patativa do Assaré é a preocupação de descrever a vida quotidiana do sertão e, através deste testemunho, protestar o reconhecimento da dignidade, da integridade e da modéstia do camponês sertanejo por oposição à arrogância do cidadão urbano ou do brasileiro do sul.

 Contexto sócio linguístico e as variações da linguagem retratadas no poema: “Cante lá que eu canto cá” de Patativa do Assaré.
A linguagem impregnada no poema Cante lá que eu canto cá de Patativa do Assaré denuncia a condição do autor como herdeiro da tradição nordestina. O primeiro elemento determinante da oralidade na obra é o emprego de uma língua falada, que retoma o estilo e a pronúncia popular, “a linguagem sertaneja” vista por muitos como errônea e feia. Essa variedade linguística do sertanejo é decorrente de vários fenômenos, como por exemplo, a condição social, o não acesso aos espaços formativos, dentre outros.
Alguns teóricos afirmariam que o poema está gramaticalmente “incorreto”, fora de todo e qualquer padrão de normatização da língua. Nesse aspecto, percebe-se que o juízo de valor atribuído a determinada variedade da língua, não leva em conta as origens, os costumes e a diversidade de seus falantes.
Tudo aquilo que é considerado erro no PNP (português não padrão) tem uma explicação científica, do ponto de vista linguístico ou outro, lógico, pragmático, psicológico. (BAGNO, 2009, p.35)
As marcas da oralidade presentes no poema de Patativa confirmam a origem rural do poeta e reforçam o caráter sertanejo do mundo descrito no poema. O registro de língua utilizado, a alteração das palavras, o vocabulário regional dão a este texto toda a originalidade da língua do interior das terras do sertão.
Pode-se então, afirmar que o poema Cante lá que eu canto cá é dotado de uma variante regional, considerada pela norma padrão como “incorreta”, neste sentido, é necessário saber que no contexto nordestino, deve-se recordar que a poesia popular inscreve-se na tradição oral desta região.
Hoje sabemos que não existe apenas uma forma de falar ou de escrever, existem várias e a elas dá-se o nome de variedades linguísticas. Não é correto afirmar que "trabaindo em minha roça" é uma expressão incorreta já que várias pessoas a utilizam, ela apenas não faz parte da variedade padrão/norma culta, mas não deve ser considerada errada.
Contudo, se observarmos melhor as variedades como elas realmente são e não como elas são comumente representadas, iremos perceber que, de fato, há diferenças entre as variedades, mas que estas diferenças são poucas, menores do que são geralmente representadas e, que, além disso, elas não superam jamais a grande semelhança que existe entre as variedades linguísticas. E, mesmo que essas diferenças fossem efetivamente grandes, nada justificaria o preconceito que se tem com relação a uma variedade diferente, afinal, ela é exatamente isso: nem superior, nem inferior a nenhuma outra variedade; apenas diferente.
Essa imposição marca a diferença entre a língua falada, que nem sempre segue o padrão imposto por lei, e o português-padrão, chamado também de norma 'culta'. Enquanto o português-padrão é aprendido nas escolas, e é aquele usado na linguagem escrita, o português-não-padrão é apreendido e passado de uma geração para outra, oralmente.
As regras do português-não-padrão são apreendidas quase naturalmente, por imitação. É uma linguagem mais funcional, que trata de eliminar as regras desnecessárias, como as redundâncias de plural, \Eu canto as coisa visive\. É uma linguagem inovadora, que se deixa levar pelas forças vivas de mudança.
A variação popular costuma utilizar a marcação de plural em apenas uma palavra na frase para expressar plural, por entender que assim é suficiente para mostrar que os demais termos também são plural. Portanto, se na norma-padrão flexiona-se diversos elementos para fazer as devidas concordâncias e enfim dizer "Eu canto as coisas visíveis”, no português de rua fala-se tranquilamente "Eu canto as coisa visive”, sem qualquer prejuízo para a compreensão. Contudo, mesmo aí há um acordo: a marcação é feita sempre no primeiro termo da frase. Há lógica nessas construções, assim como há uma regra regendo a construção.
Por outro lado, o português-padrão é muitas vezes redundante, necessita de muitas regras para dar conta de um único fenômeno. É conservador, demora muito para aceitar qualquer tipo de novidade e por essa razão se mantém inalterado por um tempo muito longo.
Em algumas variedades do português, por exemplo, o fonema "lhê" simplesmente não existe. Assim, a palavra "palhoça" é pronunciada "paioça"; "trabalhou" fala-se "trabaiou"; \nunca fez uma paioça\nunca trabaiou na roça\. Esse fenômeno chama-se assimilação, e ocorre porque os fonemas "lhê" e /y/ (símbolo usado para representar o i, como em maio) são produzidos quase na mesma zona de articulação na boca. Isso se chama yeísmo, e acontece em muitas línguas, como no espanhol e no francês.
Mas se essa variação é ridicularizada, outras são aceitas mesmo entre falantes cultos. Por exemplo, é perfeitamente comum a ocorrência da redução do ditongo EI em E quando está diante das consoantes J, R e X. Isso também acontece por causa da mesma zona de articulação entre a semivogal /y/ e aquelas consoantes. Assim, falamos "quêjo" e "dêxo" quando as palavras registram "queijo" e "deixo". É isso que faz "beijo" e "desejo" rimarem com tanta tranquilidade nas canções populares. Por uma divertida ironia, a ansiedade em "falar certo" provoca muitas vezes um excesso de correção, levando falantes cultos se atrapalhem ao dizer "carangueijo", "bandeija" e "prazeiroso", quando o registro escrito marca “caranguejo”, “bandeja” e “prazeroso”.
Uma diferença marcante entre o (PP) e o (PNP) é a transformação de L em R nos encontros consonantais - como em “compreta”, /e fazê rima compreta/, e argodão /cheio de argodão queimado/, essa forma de comunicação não se trata de um "defeito de fala", mas trata-se de um processo que ocorreu na formação do português ocorrido nos encontros consonantais chamado de rotacismo. Inúmeras palavras que hoje têm um R no encontro consonantal tinham um L na palavra de origem. Hoje, o rotacismo é característico das variedades estigmatizadas de todo o Brasil. A propósito, em "Os Lusíadas", Camões escreve, entre outras coisas, "ingrês", "pubricar", "frauta", "frecha" etc. Evidentemente nunca se ouviu falar que Camões, o patriarca da língua portuguesa, sofreu qualquer tipo de preconceito em sua escrita.
Além das diferenças linguísticas e fonéticas existentes entre o (PP) e o (PNP), há diferenças entre seus falantes, uma vez que, os falantes do (PP) são provenientes de classes sociais mais privilegiadas. O português não-padrão (PNP) é a língua da grande maioria pobre e dos analfabetos. Por ser utilizado por pessoas de classes sociais desprestigiadas, o português não-padrão (PNP) é vítima dos mesmos preconceitos que pesam sobre essas pessoas, sendo então considerado "errado".
Desmistificação do Mito da Unidade Linguística
O mito da unidade linguística não é nada mais que um pensamento preconceituoso de existir somente uma variante falada “correta” do português brasileiro. A língua portuguesa é diversificada assim como seus falantes os são; a miscigenação da cultura e da linguagem no Brasil é que formou os diversos falares existentes nas diferentes regiões do país. Desse modo, não há como existir uma única forma de fala, pois, a língua é heterogênea, dotada de mudanças definidas culturalmente.
É preciso desmitificar a ideia de que o (PNP) é errado. Os falantes desta variedade falam apenas um português “diferente”. Portanto, sendo necessário abandonar o mito da “unidade” do português no Brasil e reconhecer a verdadeira diversidade linguística do país.
O mito da unidade da língua falada gera, por sua vez, uma consequência gravíssima: o preconceito linguístico, baseado na fala de determinadas regiões, transmitido pela mídia, através de novelas, programas televisivos, reportagens, estigmatizando determinadas regiões do Brasil.
Bagno faz descrições simples e objetivas da língua não-padrão, sem nunca rejeitar o português padrão, mas defendendo que essa variedade não deve ser tratada como a única correta; demonstra que através de informação e conhecimento pode-se combater mitos e preconceitos.
Sendo instituída a Língua Portuguesa como a que deve ser falada por todos os povos no Brasil, esta é regida por normas e regras que estão estabelecidas num documento chamado Gramática, instrumento que orienta os princípios e regulamentos do uso da língua. Neste sentido, os gramáticos classificam o português em duas formas de se falar no Brasil, o Português padrão e o português não padrão. Considerando o português padrão, aquele que corresponde às normas da gramática brasileira, visto como correto e o português não padrão o jeito diferenciado das pessoas falarem, considerados errados por muitos professores e grmáticos como assim apresenta no poema “cante lá que eu canto cá” de Patativa do Assaré, que apresenta palavras diferentes das que estão estabelecidas no português padrão como corretas.
No Livro “Língua e Liberdade” Luft diz que a variedade linguística trata de um conjunto de regras que sustentam o sistema de qualquer língua, e que estudo da língua, não se limita unicamente ao estudo dos livros de Gramática. A língua é um meio de comunicação, e muda sempre para adaptar-se à realidade de seus usuários, que está em constante mudança. Luft deixa claro que a sua preocupação é com a maneira de ensinar à língua materna, as falsas noções de língua e gramática, a obsessão gramaticalista e a visão distorcida de todo esse processo.
Segundo Luft,  2000, pag. 15, “... qualquer linguagem é um meio de comunicação” e que precisaria ser interpretada como ela é, ponto de partida para o estudo e aprendizado da língua portuguesa nas salas de aula e não a aplicação de regras e normas gramaticais para este aprendizado. Cada criança traz consigo uma linguagem própria a partir do seu convívio social e que deveria ser levado em consideração na descoberta e no conhecimento da língua portuguesa.
Esta pratica educativa que enfatiza o estudo das normas e regras gramaticais como estudo da língua portuguesa tem feito com que muitas crianças não gostem da mesma, não provoca na criança o gosto, o desejo de aperfeiçoar o estudo da sua língua materna.
Para Luft, 2000, pag. 17 o importante da linguagem é falar e escrever claramente, possibilitando compreensão e entendimento e não a decodificação das regras gramaticais e que é indispensável no aprendizado da língua portuguesa a leitura e a escrita e não as regras da gramática. Não significa que não se devem aprender estas regras, mas que não deve ser o principal instrumento de estudo da língua portuguesa.
Percebe-se que diante à provocação feita pelo autor de “Língua e Liberdade” há muito que mudar no processo de ensino da língua portuguesa nas escolas brasileiras, pois em sua maioria não tem considerado importante a gramática que cada criança traz consigo. Que por meio de técnicas e metodologias esta gramática seria instrumento de mudança no aprendizado da língua portuguesa evitando a rejeição de muitas crianças, adolescentes e jovens que enfrenta um ensino baseado na memorização de normas gramaticais e de correções de suas falhas no jeito de falar ou de escrever. Esta prática educativa impossibilita a criança de ser espontânea e criativa. É necessário descobrir o potencial e a criatividade existente neste público para tornar o estudo da língua portuguesa mais prazerosa.
 ...Um ensino gramaticalista abafa justamente os talentos naturais, incute insegurança na linguagem, gera aversão ao estudo do idioma, medo à expressão livre e autêntica de si mesmo. (LUFT, 2000, p. 21)
Esta pratica educativa tem fortalecido o preconceito e a discriminação para com as pessoas que falam diferente. Cada região tem um sotaque, um jeito próprio de se comunicar.  

CONCLUSÃO
A fonte do preconceito linguístico é a língua escrita ensinada na escola que se torna a língua padrão, então acaba se tornando a norma geral que todos devem seguir, mas o modelo desta língua está nos setores elevados e dominantes da sociedade, colaboradora para o surgimento deste preconceito e, por meio deste, temos a reprodução das desigualdades, sendo que o papel da escola é de conduzir o educando a lucidez e mostrar o caminho para identificar as diferenças, as ilusões e as cegueiras que a sociedade possui.
As variedades não são erros, mas diferenças. Não existe erro linguístico. O que há são inadequações de linguagem, que consistem não no uso de uma variedade, em vez de outra, mas no uso de uma variedade em vez de outra numa situação em que regras sociais não abonam aquela forma de fala. (GERALDI, João Wanderlei (ORG), 2003, p. 52)

Na escola, o professor também pode ajudar, começando a pensar sobre a não-aceitação de dogmas e adotando uma postura crítica em relação à norma culta, tranquilizando o aluno que tem medo de errar, mostrando que usar a língua, tanto na modalidade oral como na escrita, é encontrar o ponto de modéstia entre as linhas, da adequabilidade e o da aceitabilidade, desta forma transmitindo o ensino da língua sem preconceitos e discriminações.
 É interessante que os professores, em especial os de língua portuguesa, repensem a sua forma de ensino e possam re-significar seu trabalho em sala de aula, oportunizando aos seus alunos o domínio da variedade padrão exigida pela escola, sem que desvalorize ou desrespeite a variedade falada por seus familiares e seu grupo social, aproveitando assim a língua materna e acolhendo essa criança nesse novo meio social – a escola, desta forma teremos o estudo da língua portuguesa como forma de inclusão, transformação do sujeito e do meio em que vive, possibilitando a esse sujeito a conquista da autonomia.









REFERÊNCIAS
ASSARÉ, Patativa do. Cante lá que eu canto Cá - Filosofia de um trovador nordestino - Ed. Vozes, Petrópolis, 1982
BAGNO, Marcos. A língua de Eulália: novela sociolinguística, 11ª ed., Contexto, São Paulo, 2001.
________________. Preconceito Linguístico - 52ª ed. Loyola, São Paulo, 2009.
CAMÕES, Luís de – Os Lusíadas. 1ª Ed. Lisboa: Rei dos Livros, 2002.
FLORENCE, Carboni/Mário Maestri. A Linguagem Escravizada: Língua, história, poder e luta de classes, 2ª ed. revista e ampliada, Expressão Popular, São Paulo, 2005.
GERALDI, João Wanderlei (ORG), O Texto na sala de Aula, 3ª ed. Ática, São Paulo, 2003.
LUFT, Celso Pedro. Língua e Liberdade. São Paulo: Ática. 6ª edição. 1998.

terça-feira, 19 de abril de 2011

TRABALHO APRESENTADO À DISCIPLINA: PRÁTICA PEDAGÓGICA III



        
  







                 Símbolo UnebUNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA – UNEB
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E TECNOLÓGICAS –DCHT CAMPUS XVI – IRECÊ / BA
CURSO: LETRAS – QUARTO SEMESTRE
DISCIPLINA: PRÁTICA PEDAGÓGICA III










Professor Conteudista














IRECÊ
2011
Elka Viviana de Paula Silva
Fabiana Pereira Dias
Mauro Jakes Farias da Cruz
Jamile Alves dos Anjos
Magali Santana Santos Freitas
Malane Apolonio da Silva
Milton de Oliveira Cardoso Junior
Taciane Pereira dos Santos
Sonia Marlene Figueredo de Oliveira














Atividade solicitada pelo professor Fabrício como requisito de avaliação da disciplina Prática Pedagógica III.





















IRECÊ
2011

O PROFESSOR CONTEUDISTA, por Elka, Fabiana, Mauro Jakes, Jamile, Magali, Malane, Milton, Taciane e Sonia Marlene, Irecê Bahia, 2011.



PERSONAGENS:

Diretora: Jamile Alves
Coordenadora Pedagógica: Taciane Pereira
Professor: Mauro Jakes
Alunos: Malane, Fabiana, Sonia, Milton, Magali e Elka.


PRIMEIRO ATO

[Sala da direção, onde se encontra a coordenadora pedagógica Taciane Pereira e a diretora Jamile Alves dialogando com o professor Mauro que acabou de chegar para questionar a respeito do calendário escolar]

 CENA I:

(Professor Mauro Jakes)

Senhora diretora, não há a possibilidade de aumentar a quantidade de aulas para minha turma?

(Diretora Jamile)

Professor Mauro, eu já lhe falei que eu não posso mudar o calendário das aulas simplesmente porque você não está sabendo dividir seu tempo.

(Coordenadora Taciane)

O senhor tem uma carga horária a ser cumprida. Você não participou do planejamento pedagógico?

(Professor Mauro Jakes)

Tudo bem. Acho que eu me equivoquei ao solicitar mais aulas. Acho que vou seguir o mesmo ritmo do ano passado.

 CENA II:


[Ao chegar à sala de aula o professor Mauro Jakes senta-se em sua mesa, iniciando a aula com a chamada e em seguida expõe todos os materiais didáticos a serem estudados na unidade]

(Professor Mauro Jakes e alunos)

Bom dia! Prestem atenção na chamada: 1, 2, 3, 4, 5, 6. O assunto hoje será o verbo e suas flexões, entretanto eu trouxe para o conhecimento da turma todo o conteúdo a ser estudado durante esta primeira unidade.

CENA III



[Momento de explicação do conteúdo: Verbo e suas flexões com o professor Mauro Jakes (10 minutos). Alunos atentos à fala do professor, sem nenhuma interrupção.]

(Professor Mauro Jakes)

Verbo é a palavra que indica ação, estado, fenômenos da natureza e outros processos como ocorrências, desejos, mudanças de estados.

O verbo se flexiona em:

·         Número (singular ou plural);
·         Pessoa (1a, 2a ou 3a);
·         Tempo (presente, pretérito e futuro);
·         Modo (indicativo, subjuntivo e imperativo e formas nominais);
·         Voz (ativa, passiva e reflexiva).


Modo - Indica a atitude do falante em relação ao fato que se comunica.
·         Indicativo: refere-se aos fatos considerando-se que eles ocorreram, ocorrem ou ocorrerão.
Ex. Eu comprei aquela roupa.
·         Subjuntivo: o fato é considerado como possibilidade, um desejo, uma suposição.
Ex. Talvez eu compre aquela roupa.
·         Imperativo: o fato é considerado como uma ordem, um conselho.
Ex. Compre aquela roupa!


Tempo : Localização do fato no tempo.
As flexões de tempo e modo estão associadas:

No Indicativo
-Presente: exprime um processo simultâneo ao ato da fala. Ocorre que esse tempo poderá ter o valor de um presente narrativo ou histórico, como se fosse o pretérito perfeito.

Ex: “Em 1808, a família real desembarca no Brasil.”

Também poderá o Presente apresentar-se com valor de futuro, ou, ainda de um algo que seja costumeiro, habitual.

Ex: Amanhã eu ligo para você.
“Todo dia ela faz tudo igual...”

-Pretérito
Imperfeito: exprime um processo passado com duração no tempo.
Ex:“Ela me esperava no portão”.

Principalmente na linguagem coloquial, o Imperfeito pode ser usado com valor de futuro do pretérito.
EX: “Se eu tivesse mais intimidade com o grupo, eu o chamava para o passeio.

Perfeito: exprime um processo passado, totalmente concluído.
EX: “Stop./ A vida parou ou foi o automóvel?”

Mais que perfeito: exprime um processo anterior a um processo passado.
Ex: Antes de encontrá-la na festa de ontem, eu falar a com ela sobre o que vestiríamos.

Em orações optativas, é comum ser usado o Mais-que-perfeito:
EX: Quem me dera ganhar na loteria!


-Futuro
Presente: exprime um processo posterior ao momento em que se fala.
EX: “E cada verso meu será pra te dizer ...”.

O Futuro do presente pode ocorrer com valor de presente, mas expressando dúvida, probabilidade.
 Ex: Em minha carteira, deverei ter o suficiente apenas para pagar agora meu ingresso...

Conhecemos ainda o Futuro do presente sendo usado com valor de imperativo. Ex: “Não roubarás.

Pretérito: exprime um processo possível no passado.
Ex: Eu seria feliz, caso tivesse mais dinheiro.

O Futuro do pretérito exprime, ainda, uma hipótese, probabilidade, incerteza. Pode ocorrer com valor de presente, exprimindo modéstia ou cerimônia.
Ex: Você, por favor, poderia passar-me o adoçante?

No Subjuntivo

Presente (ame)
Pretérito imperfeito (amasse)
Futuro (amar)
Imperativo- Presente - afirmativo (ama) / negativo (não ames)


Formas nominais são aquelas que, além de possuírem valor verbal, podem exercer a função de nomes. Há, ainda, três formas nominais:

Gerúndio – ndo (amando)
Particípio – regulares (amado) / irregulares (aberto).
Infinitivo - -impessoal (amar) e pessoal (amarmos).


CENA III:  

[Após os 10 minutos de aula o professor inicia a escrita ao quadro. E os alunos dialogam sobre as questões que envolvem as dúvidas sobre a aula.]

(Aluna Malane)

Você viu Fabiana, o pessoal da sala ao lado, não fazem exercícios todos os dias não... Assistem a filmes, fazem dinâmicas e até peças teatrais. Que professorzinho sem futuro esse viu.

(Aluna Fabiana)

É mesmo, quem já se viu professor que não faz atividade. Perdendo tempo, ou melhor, enrolando a aula. Eu vou copiar logo o conteúdo do quadro antes que o professor apague.

(Aluna Elka)

 Professor, o senhor está sabendo do surto de Caramujo? Olha, segundo informações, o caramujo transmite doenças. Será que ele é quem transmite a esquistossomose?

(Professor Mauro Jakes)

Não faz parte do nosso conteúdo a ação do caramujo, veja isso com seu professor de Ciências.

(Aluna Magali)
Mas essa Elka gosta de complicar as coisas, não está vendo que o professor dá aulas sobre gramática? E se ele for falar sobre caramujo vai perder muito tempo da sua aula com assunto que não é referente à sua disciplina? Vamos professor, continue com verbos que está muito interessante essa aula.
Professor, o outro assunto que o senhor havia mencionado na aula passada vai ser aplicado hoje também?

(Professor Mauro Jakes)

 Sim. Mais vamos logo, copiem que vocês já estão lerdos demais em relação ao tanto de conteúdo a ser dado.

(Aluno Milton)

Professor, todo dia o senhor faz a mesma coisa: entra, fala e copia. Foi assim com a aula de hoje. Eu já copiei tudo, mas não aprendi nada. Não tem outro jeito de aprender?

(Aluna Sonia)

  Professor anda rápido, porque se não a aula vai acabar, e eu quero copiar todo o conteúdo.

                                                                 (Aluna Elka)

 Credo, esse professor só sabe copiar, copiar... Falar, falar... Conteúdo atrás de conteúdo. Para que me servem todas essa regras. Ninguém merece isso não.


(Professor Mauro Jakes)

 Até amanhã pessoal, não se esqueçam de responder aos exercícios das páginas 10, 11, 12, 13, 14, 15, 16 e a redação de 30 linhas que complementa todo o raciocínio desenvolvido nos exercícios.





                                        






Referências:
FARACO, Carlos Emílio, MOURA, Francisco Marto de e MARUXO JR., José Hamilton. Gramática Nova.  Ed. 15. Editora Ática, São Paulo, 2009.
MENEGOLLA, Maximiliano. E agora professor. Ed 3. Editora Mundo jovem, 1989.