sábado, 24 de março de 2012

ANÁLISE DOS FENÔMENOS E VARIAÇÕES DA LÍNGUA PORTUGUESA

FABIANA DIAS
MAGALI SANTANA
MAURO JAKES
TACIANE  PEREIRA

Resumo:
Esse trabalho tem por objetivo analisar as variações e os fenômenos que vem acontecendo com a língua portuguesa no decorrer dos tempos, buscando entender como e porque surgem esses fenômenos, mais visíveis na oralidade. Tendo como objeto de estudo o poema: “Cante lá que eu canto cá” de Patativa do Assaré, com o intuito de refletir sobre o uso de diversas palavras constantes no poema, neste sentido busca-se respeitar a variedade lingüística que caracteriza a comunidade dos falantes da Língua Portuguesa.

Introdução:
     A vinda da língua portuguesa para o Brasil não se deu em um só momento. Ela aconteceu durante todo o período de colonização. Desse modo, o português estabeleceu uma relação constante com outras línguas (imigrantes holandeses, italianos, espanhóis, alemães, etc.), esse contato fez com que a língua portuguesa falada no Brasil se diferenciasse da língua portuguesa de Portugal e de outros países que falam o português
     Contextualização sócio-linguístico do poema: “Cante lá que eu canto cá”
     A linguagem impregnada no poema denuncia a condição do autor como herdeiro da tradição nordestina.     O primeiro elemento determinante da oralidade da obra é o emprego de uma língua falada, que retoma ao estilo e a pronúncia popular, “a linguagem sertaneja”. O registro de língua utilizado, a alteração das palavras, o vocabulário regional dão a este poema toda a originalidade da língua do interior das terras do sertão.
     A produção da literatura de cordel está focada principalmente na região Nordeste, mas nas últimas décadas observou-se que na região Sudeste – nos estados de São Paulo e Rio de Janeiro – firmou-se também como pólo dessa produção, este fato se deve às migrações dos nordestinos para essa região.

Análise do poema:

Você teve inducação,
Aprendeu munta ciença,
Mas das coisa do sertão
Não tem boa esperiença.
Nunca fez uma boa paioça,
Nunca trabaiou na roça,
Não pode conhece bem,
Pois nesta penosa vida,
Só quem provou da comida
Sabe o gosto que ela tem.

Pra gente cantá o sertão,
Precisa nele mora,
Te armoço de fejão
E a janta de mucunzá,
Vive pobre, sem dinhêro,
Trabaiando o dia intero,
Socado dentro do mato,
De apragata currelepe,
Pisando inriba do estrepe,
Brocando a unha-de-gato.

      As palavras acima grifadas se enquadram num fenômeno chamado de Processo de assimilação, isto é, transformação de LH em I, a variedade Português não-padrão explica: nesta variedade não existe este som consonantal. (A Língua de Eulália, p. 56).
     O som do LH é produzido com a ponta da língua tocando o palato (céu da boca), muito perto do ponto onde é produzida a semivogal /y/ (símbolo usado para representar a letra i) – esta proximidade, e a comodidade de pronunciar o “i”, levaram à transformação. (A Língua de Eulália, p. 59).
Para explicar esse fenômeno, busca-se a semelhança do PNP com a língua falada no francês padrão:

PP                          Francês padrão                                                     PNP
Trabalhar                travailler(tavayê)                                                   trabaiá


Pra gente cantá o sertão,
Precisa nele morá,
Tê armoço de fejão
E a janta de mucunzá,
Vivê pobre, sem dinhêro,
Socado dentro do mato,
De apragata currelepe,
Pisando inriba do estrepe,
Brocando a unha-de-gato.



Sua rima, inda que seja
Bordada de prata e de ôro,
Para a gente sertaneja
É perdido este tesôro.
Com o seu verso bem feito,
Não canta o sertão dereito,
Porque você não conhece
Nossa vida aperreada.
E a dô só é bem cantada,
Cantada por quem padece.


     Neste caso, percebe-se uma redução do ditongo EI em E, este fenômeno é chamado de monotongação, (dois sons transformados em um) isso acontece quando o ditongo EI aparece diante das consoantes J, X e R, pois o som dessas e da semivogal i são palatais, esses sons se juntam, transformando num único som: IJ em J. ( A Língua de Eulália, p.91-92). Semivogal também chamada de semiconsoante (só são produzidas se estiverem apoiadas em outra vogal)
     Esse fenômeno tem uma explicação baseada na história da língua, no processo de transformação do Latim para o português: Iésus – Jesus (A Língua de Eulália, p. 90)

Seu verso é uma mistura,
É um tá sarapaté,
Que quem tem pôca leitura
Lê, mais não sabe o que é.
Tem tanta coisa incantada,
Tanta deusa, tanta fada,
Tanto mistéro e condão
E ôtros negoço impossive.
Eu canto as coisa visive
Do meu querido sertão.

Canto as fulô e os abróio
Com todas coisa daqui:
Pra toda parte que eu óio
Vejo um verso se bulí.
Se as vêz andando no vale
Atrás de curá meus male
Quero repará pra serra
Assim que eu óio pra cima,
Vejo um divule de rima
Caindo inriba da terra.
     Diante dos versos acima grifados, percebemos uma incoerência nas marcas de plural, o PNP tem a seguinte explicação: A sua regra de Plural é a seguinte: “marcar apenas uma só palavra para indicar um número de coisas maior que um”, e esta regra é rigidamente obedecida, neste caso não há marcas redundantes de plural, diferente do que acontece no PP: O PNP é mais sóbrio, mais econômico, mais modesto, menos vaidoso. (A Língua de Eulália .50/51)
      Neste fenômeno (eliminação das marcas de plural redundantes) percebemos a semelhança e a influência das línguas estrangeiras mais ensinadas nas escolas: o inglês e o francês:
     Ex: My beautiful yellow flowers died yesterday. (A Língua de Eulália p.53)

Mas porém, eu não invejo
O grande tesôro seu,
Os livro do seu colejo,
Onde você aprendeu.
Pra gente aqui sê poeta
E fazê rima compreta,
Não precisa professô;
Basta vê no mês de maio,
Um poema em cada gaio
E um verso em cada fulô.

Você, vaidoso e facêro,
Toda vez que qué fumá,
Tira do bôrso um isquêro
Do mais bonito metá.
Eu que não posso com isso,
Puxo por meu artifiço
Arranjado por aqui,
Feito de chifre de gado,
Cheio de argodão queimado,
Boa pedra e bom fuzí.
         Nas palavras grifadas temos um fenômeno chamado de Processo de rotacização do L em R.
     No quadro abaixo podemos fazer uma comparação e a partir daí, entendermos como se deu esse fenômeno, através da influência e miscigenação das línguas estrangeiras à nossa Língua portuguesa:

LATIM             FRANCÊS                             ESPANHOL                       PORTUGUÊS
Ecclesia                 Église                                    Iglesia                                     Igreja
Plaga                     plage                                     playa                                        praia

Conclusão:
     Esse estudo nos proporcionou um conhecimento mais apurado da Língua Portuguesa, desta forma, entendemos que existe uma explicação para todo processo de variação, neste contexto, é possível lidar de maneira natural diante de tais fenômenos bem como fugir do preconceito linguístico que muito impera em nossa sociedade.
     È notório um grau de semelhança entre o PNP e o PP, permitindo que um falante escolarizado do Rio Grande do Sul possa se comunicar com um morador analfabeto das palafitas do Amazonas... (A Língua de Eulália, p. 20)
     No Brasil não se fala uma só língua. Existem mais de duzentas línguas ainda faladas em diversos pontos do país pelos sobreviventes das antigas nações indígenas. Além disso, muitas comunidades de imigrantes estrangeiras mantêm viva a língua de seus ancestrais: coreanos, japoneses, alemães, italianos, etc. (A Língua de Eulália p.18)

REFERÊNCIAS:

  •  BAGNO, Marcos. A Língua de Eulália: novela sociolinguística/14. ed. – São Paulo: Contexto, 2005.
  •  ______________.Preconceito Linguístico/52. ed – São Paulo: Edições Loyola, 1999.
  •  LUFT, Celso Pedro. Língua e Liberdade/3. ed. – São Paulo: Ática, 1994.

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