sábado, 24 de março de 2012

Estudo sobre o Romantismo, tomando como base dois livros didáticos.

Por: Magali Santana

Este trabalho propõe um estudo sobre o Romantismo, tomando como base dois livros didáticos, a saber: Língua e Literatura (Carlos Emílio Faraco, Francisco Marto de Moura) e Português: linguagens (William Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães) com o objetivo de pontuar semelhanças e/ou diferenças no modo como os dois autores abordam o tema.

    O Romantismo é a expressão artística de um pensamento que coloca no centro de sua visão de mundo o indivíduo. São os valores e a perspectiva do eu as principais balizas para se dar sentido ao mundo e para expressá-lo nas artes. Na perspectiva de ampliar as possibilidades do futuro e redignificar a sociedade brasileira, os escritores da época, inspirados pelos ideais liberais do Romantismo, buscam na literatura uma forma de superar a fase colonial, valorizando traços do caráter nacional. A abordagem inicial sobre o Romantismo é semelhante entre os autores dos livros em análise – Português: linguagens e Língua e Literatura.
    A independência política, ocorrida em 1822, despertou na consciência de intelectuais e artistas nacionais a necessidade de criar uma cultura brasileira identificada com suas próprias raízes históricas, linguísticas e culturais.
    O Romantismo, além de seu significado primeiro – o de ser uma reação à tradição clássica - assumiu em nossa literatura a conotação de movimentos anticolonialista e antilusitano, ou seja, de rejeição à literatura produzida na época colonial, em virtude do apego dessa produção aos modelos culturais portugueses. (in: Português: linguagens); neste contexto, o autor do livro Língua e Literatura, reforça essa ideia, através de um comentário do crítico Antônio Candido, que: “a Independência importa de maneira decisiva no desenvolvimento da ideia romântica, para a qual contribuiu pelo menos com três elementos que se podem considerar como redefinição de posições análogas ao Arcadismo: a) o desejo de exprimir uma nova ordem de sentimentos, agora reputados do primeiro plano, como o orgulho patriótico, extensão do antigo nativismo; b) desejo de criar uma literatura independente, diversa, não apenas uma colonial, o nacionalismo literário e a busca de modelos novos, nem clássicos nem portugueses, davam um sentimento de libertação relativamente à mãe-pátria; finalmente; c) a noção... de atividade intelectual não mais apenas como prova de valor do brasileiro e esclarecimento mental do país, mas uma tarefa patriótica na construção nacional”.
    Portanto, ambos consideram o nacionalismo como um traço essencial de nosso Romantismo, que, orientando o movimento, lhe abriu um rico leque de possibilidades a serem exploradas. Entre elas se destacam o indianismo, o regionalismo, a pesquisa histórica, folclórica e linguística, além da crítica aos problemas nacionais – todas as posturas comprometidas com o projeto de construção de uma identidade nacional.
    Como marco inicial do Romantismo no Brasil, os autores dos livros didáticos em análise, fazem referência semelhantes, destacando a publicação da obra: Suspiros poéticos e saudade (1836), de Gonçalves de Magalhães, abordagem apenas superficial, de citação, não encontra em nenhum dos dois livros algum trecho da poesia sinalizada, no entanto, é notório verificar a ênfase que ambos fazem a Gonçalves Dias, tomando-o como o escritor quem implantou e solidificou a poesia romântica em nossa literatura, considerando a sua obra como a realização de um verdadeiro projeto de construção da cultura brasileira.
    No livro Português: linguagens, o seu autor aponta três gerações de escritores românticos, (primeira geração, segunda geração e terceira geração), destacando as características de cada uma delas e seus respectivos autores, não incluindo aqui os romancistas, notificando que suas obras podem apresentar traços característicos de mais de uma geração.
    Primeira geração: nacionalista, indianista e religiosa. Nela se destaca os poetas Gonçalves Dias e Gonçalves de Magalhães, Segunda geração: marcada pelo “mal do século”, apresenta egocentrismo exacerbado, pessimista, satanismo e atração pela morte - (Ultra-Romantismo), grifos meus. Principais representantes são os poetas Álvares de Azevedo, Casimiro de Abreu, Fagundes Varela e Junqueira Freire, Terceira geração: formada pelo grupo condoreiro, desenvolve uma poesia de cunho político e social. A maior expressão desse grupo é Castro Alves. No tocante a essa classificação, o autor de Língua e Literatura não a faz, é menos detalhista, em seguida percebe a semelhança quando ambos classificam os escritores de acordo os gêneros, mudam o nome do gênero mais percebe o mesmo significado. Apresentação conforme os autores o fizeram; quanto ao gênero, considere a ordem: Língua e Literatura - Português: linguagens: Poesia/lírica: Gonçalves de Magalhães, Gonçalves Dias, Álvares de Azevedo, Junqueira Freire, Casimiro de Abreu, Fagundes Varela, Castro Alves e Joaquim de Souza Andrade (Sousândrade). Prosa/romance: Joaquim Manoel de Macedo, Manuel Antônio de Almeida, José de Alencar, Bernardo Guimarães, Visconde de Taunay e Franklin Távora. Teatro/teatro: Martins Pena, José de Alencar, Gonçalves Dias (três autores destacados nos dois livros), o autor de Português: linguagem destaca ainda Gonçalves de Magalhães e Álvares de Azevedo no gênero teatro, faz uma referência também ao autor Álvares de Azevedo (no conto) e Gonçalves Dias e Castro Alves (na épica).
     Enquanto às possibilidades de representação do nacionalismo literário, em primeiro momento: o indianismo - verifica-se por parte dos autores, o destaque a Gonçalves Dias (no poema: I – Juca Pirama) e José de Alencar (no romance: O Guarani). Na apresentação de “I – Juca Pirama”, e do “O Guarani”, ambos fazem uma análise da história narrada no poema e no romance, levantando os elementos de manifestação nacionalista, ao sinalizar expressões reveladoras de exaltação à natureza e cor local, o índio visto como o “bom selvagem” (onde ambos os autores fazem relação com as ideias do pensador iluminista e pré-romântico Jean-Jacques Rousseau – partindo do princípio que o homem é originalmente puro), o índio visto como representante do passado histórico nacional e herói da nossa gente, símbolo de nacionalidade, realçando sua bravura e coragem num cenário totalmente idealizado. Nessa busca das raízes da nossa nacionalidade, os livros didáticos em análise referem à figura do negro de maneira semelhante: o negro, por sua vez não podia ser tomado como assunto e muito menos como herói, (...) porque representava a última camada social, aquela que só podia oferecer o trabalho e para isso era até compelida. Seria, portanto, um contra-senso econômico e social elevá-lo à condição de herói, uma vez que muitos dos escritores e leitores da época faziam parte da classe dominante e compactuavam com o regime escravocrata. E quanto ao branco, este não poderia ser o herói nacional naquele momento, pois, em razão de estar identificado com o colonizador português, isso entraria em choque com o sentimento nacionalista e antilusitano que surgiu após a independência.
    Em segundo momento: o regionalismo – encontramos nos dois livros referências sucintas de algumas obras de José de Alencar: (Tronco do Ipê, Til, O Gaúcho e o Sertanejo), vale ressaltar que no livro Língua e Literatura, o autor pontua através de um trecho destacado por Alencar, a fim de revelar a fonte de inspiração para esses romances citados “... onde não se propaga com rapidez a luz da civilização, que de repente cambaia a cor local, encontra-se ainda em sua pureza original, sem mescla, esse viver singelo de nossos pais, tradições, costumes e linguagens, com um sainete todo brasileiro. Há não somente no país, como nas grandes cidades, até mesmo na corte, desses recantos, que guardam intacto, ou quase, o passado”.
     No entanto, percebe nos dois livros a importância dada à obra Inocência – de Visconde de Taunay, sendo considerada a obra-prima do romance regionalista de nosso Romantismo. A qualidade da obra resulta no equilíbrio alcançado na contraposição entre vários aspectos: ficção e realidade, valores românticos e valores da realidade bruta do sertão, linguagem culta e linguagem regional, haja vista que o escritor, como militar, realizou pelo país, principalmente pela região de Mato Grosso, colhendo experiências para compor suas obras, desta forma, correspondendo a uma característica do Romantismo que era a pesquisa linguística.
     Como já relatei acima que o autor do livro: Português: Linguagens é mais detalhista, nota-se como ele aprofunda nas questões da Segunda geração do Romantismo, ao discorrer sobre e como se deu a origem da poesia romântica brasileira conhecida como Ultra-Romantismo, pontuando as características: “... essa geração caracterizava-se pelo espírito do mal do século, uma onda de pessimismo doentio que se traduzia no apego a certos valores decadentes, como a bebida e o vício, na atração pela noite e pela morte”.
    Ao destacar o principal poeta desse grupo, os dois livros fazem a mesma referência a Álvares de Azevedo, na análise da poesia “Lembrança de Morrer”, destacando pontos de melancolia, tristeza, sonho e fantasia, acrescidos de traços macabros e satânicos.
    É interessante destacar que no livro Língua e literatura, o autor traz muitas citações de críticos literários como: Antônio Cândido (ao relatar o desejo por parte dos autores da época em criar uma literatura independente), Dante Moreira Leite (o indianismo tinha conteúdo ideológico: “o índio foi, no Romantismo, uma imagem do passado e, portanto, não apresentava qualquer ameaça à ordem vigente, sobretudo escravocrata), Brito Broca, dentre outros, fator curioso é que o autor traz a biografia de maneira bem detalhada de todos os autores estudados, desta forma, o leitor é levado a conhecer um pouco mais sobre nossos autores brasileiros, enquanto a abordagem das obras, ambos destacam os trechos mais importantes e pertinentes à abordagem temática culminando em discussões, análise de poemas, poesias e trechos dos romances apresentados, atividades para a reflexão do leitor, textos complementares.
    Diante do exposto, nota-se mais semelhança que diferença entre os dois autores ao abordarem o Romantismo, priorizam os mesmos autores e obras, divergem apenas no aprofundamento e detalhe de algumas questões.


Referências bibliográficas:

CEREJA, William Roberto/Thereza Cochar Magalhães – Português: linguagens: volume único, ensino médio, 1ª. ed. São Paulo: Atual, 2003.

FARACO, Carlos Emílio/Francisco Marto de Moura – Língua e Literatura: volume 2, segundo grau, 2ª. ed. Ática, São Paulo, 1983.

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